"Brasil se organiza para que os rentistas continuem tendo a garantia de receber regularmente os recursos que esperam, e a economia real continua paralisada", diz diretor técnico do Dieese
São Paulo – Na medida em que os índices de inflação desabam, como consequência do quadro recessivo que afeta o conjunto da economia, o ritmo de corte na taxa básica de juros (Selic), adotado pelo Banco Central (BC), tem sido insuficiente, e representa um "pé no freio", o que dificulta, ou inviabiliza, a retomada do crescimento. Nesta quarta-feira (26), o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou em um ponto percentual a taxa básica, fixando a Selic em 9,25% ao ano.
Ao longo do primeiro semestre, a Selic recuou de 13% ao ano, em janeiro, para 9,25%, , uma redução absoluta de quase 30%. Contudo, a inflação acumulada para os últimos 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-IBGE), caiu de 5,35%, em janeiro, para 2,99%, em junho, quando o índice registrou, no mesmo mês, deflação de 0,23%, primeiro resultado negativo em 11 anos.
Esse descompasso entre o ritmo de queda da inflação e da Selic faz com que a taxa real de juros registre tímida redução, permanecendo como uma das mais elevadas do mundo. Calculada dividindo-se a taxa de juros nominal (a Selic) pela inflação dos 12 meses anteriores (ex post), os juros reais estão na casa dos 6%. Em janeiro, a taxa real de juros registrava 7,26%.
evolução juro real
Para o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, "a economia continua em recessão, e o BC vem sinalizando para uma redução gradual da taxa básica. Segundo ele, trata-se de "uma tirada do pé do freio muito gradual, o que repercute na própria dinâmica econômica."
"Mesmo com redução da taxa nominal de juros de 10,25% para 9,25%, ainda assim, temos uma taxa extremamente elevada. Muitos países trabalham com juros negativos, abaixo da inflação. Temos uma taxa acima da inflação (juro real) da ordem de 5% a 6%, uma das mais altas do mundo, o que significa que o pé no freio está ainda muito forte", explica o diretor do Dieese, em entrevista à Rádio Brasil Atual, nesta quinta-feira (27).
Segundo Clemente, o juro real elevado afeta diretamente a retomada do crescimento e, por consequência, que contribuiu para o baixo índice de criação de empregos, e impacta, inclusive, na arrecadação dos estados, já que o pagamento de imposto também cai por conta da queda geral na economia.
"Já deveríamos estar com uma taxa de juros muito menor, para que, de fato, houvesse sinalização clara da retomada do crescimento pela via da política monetária. Não é o que acontece nesse momento. A sinalização ainda é de que 2017 será um ano de baixíssimo crescimento, se não tivermos crescimento negativo", analisa.
Para ele, a manutenção dos juros elevados é uma estratégia deliberada do atual governo para garantir rendimentos elevados ao setor financeiro. "O Brasil se organiza, de forma rápida e muito profunda, para que os rentistas continuem tendo a garantia de receber regularmente os recursos que esperam, e a economia real – o desemprego, a dinâmica econômica das empresas produtivas – continua paralisada."
por Redação RBA
27/07/2017